Esta minha vinda para canchungo teve vários objectivos, mas também foi muito uma escolha do coração, que queria despedir-se da guiné no local onde ele se apaixonou, mais uma vez, perdidamente, por um país africano.
Na semana anterior, estive em mansoa, a fazer uma maratona de gravação do meu programa de rádio, para deixar programas que possam ir para o ar até final de Setembro, mês em que chegará a próxima pessoa.
As minhas últimas duas semanas na guiné são em mansoa e canchungo.
Ainda bem que o mundo tem alguma ordem…
Olho para trás e vejo uma série de episódios que ainda gostaria de partilhar:
- o email surpreendente da maria grazia (a minha amiga de missão em moçambique, que ficou por lá até hoje) em que contava, com um ar animadíssimo, ter-me visto na RTP África, a dançar ao som dos Super Camarimba… as maravilhas da tecnologia! Dois países tão distantes unidos por uma televisão que passa, numa mesma língua, registos e coloridos bem diferentes! Portugal é muito mais rico por ter relações em todos estes continentes!
- as peripécias com o voto nas eleições legislativas e o seu formato estranhíssimo – recebemos uma carta do ministério dos negócios estrangeiros, com o boletim e todas as instruções. De tal formas complicadas que quase todos nos enganamos… :D depois de reabrirmos os envelopes (invioláveis!) com vapor de água, lá os tivemos de enviar por correio (!!). será que chegaram? É estranho não se ter a certeza se se votou ou não!
- o projecto no qual participei, em representação da fec, em parceria com o ministério da educação nacional e com a UNESCO, no qual estivemos a preparar o sistema de formação e certificação de professores a implementar no país. Assusta participar em algo tão grandioso e lidar com tudo isto juntando a militância com o institucional...
- o são joão que organizamos - o melhor de bissau, de certeza, mas também candidato a um dos melhores do mundo...
- as duas viagens que fiz com a ana pocinhas a bolama, ilha maravilha da natureza, que o homem conseguiu tornar ainda mais enigmática e misteriosa com a sua intervenção. momentos de beleza natural e de profundidade de uma amizade especial.
- os espectáculos do coro que foram um verdadeiro sucesso…
«x - Uma onda leva sempre a outra onda, como uma terra leva sempre a outra terra e uma nova terra é sempre uma nova casa, num grande itinerário de moradas!…
y - Mas eu já tenho a minha casa, eu já tenho a minha terra…
x- Perceberás com o tempo que uma casa é um lugar que estamos sempre a conquistar…»
«Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.»
«x - Tenho medo!
y - Se não soubermos lidar com o medo, podemos naufragar nele, mas se nos deixarmos ir, também pode embalar-nos. No mar e no medo, nada pior do que não avançar…»
«Algumas palavras só o coração conhece: mãe, amor, saudade. Rafael não regressou, o verdadeiro fugitivo não regressa, não sabe regressar, reduz os continentes a distâncias mentais…
Escreveu num papel de carta, em rude caligrafia:
“A saudade mais sofrida é a que não se pode partilhar na nossa língua.”»
Já não tenho muito tempo para contar histórias… as últimas levo-as comigo!
Faz um ano que me despedia de canchungo, já com o coração triste pela partida.
Desta vez, quando deixar canchungo, amanhã, quase directamente para o aeroporto, não será só de canchungo que me despedirei… será da guiné, dos amigos da guiné, da minha vida na guiné… será mais outro capítulo da minha vida a virar a página…
E só me vêm à mente, e ao coração, as palavras que escrevi, neste mesmo local, no ano passado…
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