07/08/10

Despedidas...


Custa-me sempre partir… mas gosto de fazer as malas.

Fiz as malas mais uma vez. Já saí de casa. Já deixei Canchungo.

Nunca me é, e duvido que algum dia venha a ser, fácil deixar uma casa onde fui feliz.

Apesar de todas as vezes em que me queixei da falta de água, apesar de todas as dificuldades que a casa me fez passar, ficará sempre na lembrança como um cenário de partilha de Vida. Como cenário de experiência dura mas de crescimento, cenário de proximidade das pessoas.

De tempos a tempos, gosto de olhar para a minha vida e distinguir o importante do acessório. Descobrir o essencial.

E não apenas no sentido metafórico, gosto mesmo de poder decidir quais as coisas de que preciso para continuar a viver com paz, tranquilidade e segurança. Talvez por isso tenha sobrevivido sem grandes mazelas a viver em três países, cinco cidades, sete casas, em apenas quatro anos.

É de uma liberdade estonteante perceber que quase nada é essencial… as roupas, estas ou outras, um mínimo de produtos de higiene e medicamentos, algumas fotos, alguns livros, alguma música… sempre “estas ou outras”. Quando partimos é bom que a mala tenha espaço para permitir que o que vamos encontrar à chegada se instale nela.

O essencial está sempre connosco, se partimos inteiros. O essencial vai fazendo casa em nós. O essencial é a capacidade de fazer casa em qualquer lugar. O essencial é esse paradoxo de ir recheado com o que levamos de nosso e nos apresentarmos vazios para poder preencher com o que é novo.

Mais uma vez tive de reduzir a minha vida ao essencial, para vir a descobrir que Canchungo inteiro coube na minha mala. Essa que transporto para qualquer lado mundo. Essa que faz casa em qualquer lugar.

Gosto de fazer as malas… mas custa-me sempre partir.