20/07/10

Notícias da Guiné XI



Cá estamos para dar um “olá”, ainda que breve.

Pela primeira vez fiquei mais de um mês sem acesso à net e, portanto, não foi possível enviar as reflexões que tanto prazer me dão a escrever e que me permitem ir estando em contacto com o mundo desse lado. As tempestades também não têm ajudado… até as linhas telefónicas andam difíceis!

Também é verdade que o mês de Junho, ao contrário das minhas expectativas, foi muito complicado a nível de trabalho e o Julho está a ser de doidos, completamente!

Gostei de ver, no entanto, que algumas pessoas sentiram a nossa falta – vários foram os mails e até sms a perguntar se estava tudo bem, se estávamos vivos e de boa saúde. Afinal… ainda não fomos totalmente esquecidos (nem pelos alunos de há tantos anos… na altura em que a História era outra, não é Pedro?!) ! :D

Pois, aqui vão, em estilo telegráfico, alguns comentários sobre o que temos andado por cá a fazer. Não é o meu estilo preferido, mas é o possível nesta altura:

- em primeiro lugar, e para quem não sabe, o mês de Junho entrou com a necessidade de tomada de decisão sobre o futuro, e nós decidimos ficar mais um ano. A FEC sabia que eu no próximo ano queria vir para Bissau para eu e o Miguel podermos estar juntos e propôs-me um lugar em Bissau (coordenadora da Comunicação), e eu aceitei. O trabalho parece ser interessante (dar formação a jornalistas, ter um programa numa rádio nacional, organizar as publicações da FEC na GB e tratar da comunicação interna) e é mais um desafio para mim, mais uma novidade!

- o Miguel anda muito contente e realizado no seu trabalho. Depois de uma difícil adaptação à cidade (já estávamos habituados ao “terreno”), à nova instituição, às novas funções e até a ter de viver sem mim (primeiro estranha-se, depois entranha-se!! :D), tudo entrou nos eixos e lá está ele todo feliz num projecto que tem pernas para andar e com o qual se identifica muito. Já foi por três vezes a missões no terreno (e este “terreno” é mesmo muito interior) e voltou sempre com imensas histórias para contar – viagens de canoa fantásticas, tempestades marítimas para enfrentar, viagens no mato bastante superiores a safaris, excursões nas bolanhas (plantações de arroz) com água até ao peito… está um verdadeiro “todo o terreno”, o meu marido! :D

- depois da decisão de ficarmos por cá mais um ano (ou dois), decidimos comprar um jipe e lá encontramos um Mitsubishi Pagero muito fixe em quinta ou sexta mão. Tivemos um mês inicial muito complicado (avariava em todas as viagens), mas agora já entrou na linha e tem sido uma grande ajuda, sobretudo para eu e o Miguel nos podermos visitar mutuamente. Isso também nos tem permitido viajar um pouco mais e para festejarmos os cinco anos juntos fomos fazer um fim-de-semana ao Saltinho, um lugar paradisíaco junto ao rio. Foi mesmo muito bom e deu para cortar um pouco com o imenso trabalho do dia-a-dia!

- Junho trouxe também o S. João, e nós, como bons portuenses que somos, decidimos festejá-lo em Canchungo e foi uma bela festa! A Catarina, vimaranense que foi substituir o Miguel em canchungo, deu o grande incentivo e todos alinhamos – o Cirilo aderiu logo (festa é festa), o Miguel veio de Bissau e convidamos alguns amigos espanhóis (de outra ONG) e guineenses. Foi um verdadeiro S. João! Não faltou o peixe grelhado (bentana, não sardinha… mas quem não tem cão, caça com gato!), o pimento, a saladinha… Foi uma noite animada com muita música multicultural!

- agora também é tempo de balanço e foi fantástico ver que, para além do trabalho que nos trouxe cá, e que foi bem cumprido, também conseguimos fazer outras coisas com a ajuda dos nossos amigos em Portugal. Há duas em particular que nos fazem ficar orgulhosos – os apadrinhamentos e a construção da escola de Bidjope.

Quanto aos apadrinhamentos, conseguimos apadrinhar 20 crianças durante este ano lectivo. Nada mau para um projecto que nem divulgação teve, que caminhou apenas pelo “passa palavra” da nossa família. Foi um belo trabalho que permitiu que algumas crianças que não têm possibilidade de estudar conseguissem manter-se na escola. Para o ano veremos o que mais se poderá fazer!

Quanto a Bidjope, também foi impressionante a adesão das pessoas ao apelo que fizemos. Por grande incentivo de amigos e de alguns ex-alunos organizou-se a associação “A Ponte Amiga”, que tem feito esforços para que Bidjope seja uma realidade. Durante o ano conseguiu-se dinheiro para a construção, a comunidade levantou o edifício, nós compramos os materiais, a escola foi tapada antes das chuvas começarem para não cair, e neste momento só falta cimentar e rebocar a escola.

A comunidade parou os trabalhos porque esta é a época da lavra, e se não lavrarem não há nada para comer no próximo ano… Mas já prometeram recomeçá-los para que, em finais de Setembro, inícios de Outubro, se possa inaugurar a escola com a abertura do ano lectivo. Também nessa altura distribuiremos os materiais escolares que nos chegaram pelo correio. À porta da escola será colocada uma placa com os dizeres «Escola construída com o apoio da associação “A Ponte Amiga” e da FEC» e…. grande surpresa… será chamada de “A Ponte Amiga”! Não é bonito? Já foi aberto um concurso na Associação para que se escolha um logótipo para a escola, porque aqui a DRE quer estampar t-shirts para o uniforme!

Onde isto já vai… é bom ver o que Deus faz com os nossos pequenos passos!

E isto ainda não acabou… Apesar de saber poucas coisas (querem surpreender-me!) sobre o assunto, parece-me que haverá um sarau no dia 23 de Julho para angariação de fundos para uma biblioteca da região de Cacheu! Esta Associação tem pernas para andar e não parece querer ficar parada! Fico muito orgulhosa!

- num dia desta semana o Miguel estava num café da cidade de Bissau e o vendedor de jornais vai ter com ele e diz: “ó senhor, compre o jornal que hoje a sua cara aparece lá!”. Foi tão engraçado! Um dia destes o Miguel falou com um jornalista do “Nô Pintcha”, o principal e mais antigo jornal guineense (cujo título significa “nós avançamos”), o primeiro após a independência, sobre a sua reportagem sobre a emigração clandestina, escrita no ano passado na viagem à Mauritânia, e ele mostrou-se muito interessado no assunto. O Miguel enviou-lhe o texto e este foi publicado (a primeira parte) na edição desta semana! As voltas que o mundo dá… quem diria… nessa altura nem sabíamos que viríamos para a Guiné… quase um ano depois, o artigo sai num jornal africano, bem perto do local que lhe serviu de inspiração e onde foi redigido! Mais um motivo de orgulho para nós!

- o mês de Julho trouxe também as primeiras despedidas… três das nossas amigas e colegas da FEC regressaram esta sexta a Portugal. Tinham fortes motivos pessoais e já tinham terminado a sua parte do projecto. Só as Supervisoras terão trabalho até às 00h00 de dia 31 de Julho! Pobres de nós! :D Mas a verdade é que é muito triste ver partir pessoas que partilharam as nossas vidas, sabendo que agora seguiremos vidas separadas… parece coisa de adolescente, mas as despedidas custam sempre! Sobretudo porque conseguimos criar um clima muito forte entre nós, constituindo não só uma equipa boa tecnicamente, mas também muito boa em termos humanos, muito comprometida com o projecto e muito preocupada com as pessoas que estão à volta. Não vai ser fácil repetir uma equipa assim!

E bem, esta semana teremos o meu 31º aniversário e terei alguma tristeza por não poder partilhá-lo com a família e os amigos… Como é possível não ter um pic-nic no meu aniversário? :D

Devo passá-lo a trabalhar, porque ainda tenho milhares de coisas para fazer até conseguir encerrar a minha parte do projecto – as sessões de formação (quinze dias seguidos com cerca de 100 professores em formação, em quatro cidades diferentes…que eu tive de coordenar e visitar diariamente) só terminaram na sexta-feira e agora falta toda a parte administrativa e burocrática de tudo isso. Para além das 180 provas (português e pedagogia) para rever e introduzir no computador!

Em Agosto, passarei a primeira semana ainda em Canchungo, onde me voluntariei a dar uma semana de formação aos professores da missão católica (a mesma onde apadrinhamos os alunos), e depois virei para Bissau de vez. Estarei duas semanas de férias metida em casa (as chuvas estão a deixar tudo impossível de transitar!) e no dia 22 de Agosto viajarei para Portugal, para uns dias de férias. Depois da formação em Lisboa, nas primeiras semanas de Setembro, regressarei a casa, a Bissau, para mais um ano na Guiné. O Miguel ficará por cá pois não pode gozar férias agora. Veremos quando poderá tirar uns dias para ir à terra. As saudades do Porto apertam muito!

Bem, até breve… esperemos que apreciem as fotografias que enviamos!

Passa sabi!

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